sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Sim! Somos todos "investment grade".

A propaganda brasileira é “investment grade”, mas não é só ela não. Os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein são “investment grade”. O ITA (Instituto de Tecnologia da Aeronáutica) também é “investment grade”.
O sistema bancário brasileiro tem qualidade e expertise globais. O Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada do Rio de Janeiro é “investment grade”.
A imprensa brasileira tem jornalistas que poderiam estar dirigindo os maiores veículos de comunicação do mundo. Eles têm competência global e uma coragem que também são “investment grade”.
Roberto Medina, que já sofreu sequestro e que poderia ter ido sonhar em outros lugares, ficou no Brasil e faz um dos melhores e maiores festivais do mundo. E o Rock in Rio é “investment grade” em cada detalhe.
O agronegócio brasileiro é “investment grade”. Os gestores brasileiros são “investment grade”.
A televisão, o cinema e o teatro brasileiro são “investment grade”. O último filme de Regina Casé, “Que Horas Ela Volta?”, da diretora Anna Muylaert, é uma obra-prima saudada pela “Vanity Fair” e pelos maiores veículos da imprensa mundial.
“Narcos”, a nova série do diretor e autor José Padilha, estrelada pelo ator baiano Wagner Moura, é um sucesso global porque “é investment grade”.
Só que nós somos “investment grade” como aqueles corredores africanos que ganhavam maratonas e provas de longa distância porque eram treinados descalços nas piores condições de terreno. E o mundo em nossa volta nunca foi “investment grade”.
Os empreendedores brasileiros são “investment grade”. Eles têm a resiliência como marca, e as dificuldades sempre foram mães da invenção.
As empresas brasileiras, veja as datas de suas fundações, cresceram sob porrada, com precárias condições competitivas, num sistema tributário kafkiano e numa economia instável.
Acordar no Brasil, muitas vezes, é um ato de teimosia. Levantar é um ato de coragem. Meu sono não é “investment grade”, mas meu sonho é.
Este texto é escrito por mãos roídas. Eu odeio quando as pessoas dizem que eu sou Poliana, que meus artigos são textos de autoajuda. Eu sou corajoso porque estou com medo. Estou procurando saídas porque está difícil encontrá-las. E todas as vezes que o Brasil se viu nessas circunstâncias, ele encontrou saída.
Roberto Marinho começou a vida perdendo o pai. Washington Olivetto foi internado criança com suspeita de poliomielite, e foi da cama que brotou o seu gênio.
Eles são “investment grade”. Eu sou “investment grade”. E não vou deixar que me rebaixem.
As pessoas me perguntam o que eu tomo para ser animado. Eu tomo vergonha, eu tomo Losec, eu tomo Motilium, eu tomo passes no Gantois, eu tomo dez quilômetros no parque.
Eu não durmo à noite, eu morro. Só que às 6h45 da manhã, como fênix, eu pulo da cama. Eu e milhões e milhões de brasileiros que colocaram o Brasil para ser “investment grade”.
Somos um país tão acostumado a conviver e a superar as desvantagens que a nossa seleção olímpica que mais ganha é a seleção paralímpica. Portanto cegos, surdos, sem braços e sem mãos como a Vitória de Samotrácia exposta no Museu do Louvre, nós seguimos em frente e de maneira surpreendente cruzaremos vitoriosos a linha da chegada.
Porque somos fênix. Porque somos grandes brasileiros, a despeito e apesar dos ciclos do Brasil. Nós somos “investment grade”.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

STATUS DE RELACIONAMENTO: ENROLADO (COM A COMIDA)

Por Rita Oliva, minha "pequena"!





Escrevo esse texto na cozinha de casa. Ao meu redor, tenho oito livros (compulsiva), uma xícara de chá, um copo de água e a última torrada do pacote. Atrás de mim, a geladeira. Confesso que, desde que me sentei, já pensei algumas vezes que lá dentro existe a maravilhosa geleia de figo, que poderia acabar com a solidão da torrada e me adoçar um pouco a vida. Soa familiar? Então, eu pensei sobre o que vou escrever agora e lembrei que não estava com fome. Fiz um chá, enchi o copo de água e resolvi focar no texto.
Achei apropriado escrever sobre comida na cozinha porque nada melhor do que estar em meio a fatos e sentimentos para descrever uma relação. E recentemente, aprendi com Evelyn Tribole, especialista em Comer Intuitivo, que a maneira que nos relacionamos com os alimentos interfere tanto na nossa saúde (e na balança) quanto o que de fato comemos. Sem dúvida, é importante conhecer a qualidade do que comemos, mas quando focamos só em nutrientes, esquecemos de apreciar a comida em si. E isso tende a ser um problema, justamente para quem se preocupa em manter um corpo saudável e bonito (leia-se um corpo em que você se sinta bem).O Comer Intuitivo ressalta a importância do prazer na alimentação. E eu digo que é um começo de conversa bem interessante em oposição à ideia de restrição, que as dietas normalmente trazem.
Você já reparou no que sente quando pensa em certos alimentos? Se tem satisfação verdadeira na hora de comer? Ou se tem focado em comida “que pode” e comida que “não pode”? Tem usado muito a palavra “jacar”, para dar um nome amigável às fugas cheias de culpa da alimentação excessivamente regrada?
Abaixo, alguns passos desse método, que é totalmente embasado por casos clínicos e evidências, e parece ser um bom caminho para quem quer se alimentar de forma saudável, mas não suporta pensar em abrir mão de todos seus prazeres à mesa.

1) Buscar a Satisfação
   hitfull.com
A satisfação é o ponto central do Comer Intuitivo. Tudo gira em torno dela. Por isso, é importante desenvolver uma consciência maior de si mesmo e de seus hábitos, para identificar o que impede a satisfação de comer. Entre alguns fatores encontrados estão regras rigorosas com comida, culpa, falta de alegria, falta de confiança, focar demais em calorias e nutrientes. A relação comida-prazer deve estar bem-resolvida, inclusive para quem deseja perder peso. Por isso, é importante se perguntar: o que me dá prazer na hora de comer? Pensar em qual circunstância, companhia, culinária você gosta pode abrir novas possibilidades de encontrar a satisfação tanto na alimentação quanto no seu corpo.

2) Permissão Incondicional Para Comer (Com Consciência!)
   wallpaperscraft.com

O Comer Intuitivo não é baseado em regras externas. Ele é inteiramente baseado em deixas internas de fome e saciedade. Por isso, é essencial desenvolver uma consciência maior do efeito da comida no corpo e na mente, entendendo o que sentimos quando ficamos na expectativa de comer, no momento que realmente comemos e após a experiência gastronômica. Desta forma, temos permissão incondicional para comer, desde que estejamos em sintonia com nosso próprio corpo, e desde que as razões para comer sejam físicas, e não emocionais.

3) Honrar a Saúde com Nutrição Sutil (Gentle Nutrition)
   http://damndelicious.net/
Devemos apreciar a comida, com uma quantidade que seja suficiente para matar a nossa fome mas que não nos deixe com a sensação de que vamos explodir depois de comer. Basicamente, o que nos satisfaz. Para isso, não precisamos de regras rígidas, mas sim de autoconhecimento. Quando você se conecta com seu corpo, há alimentos ou momentos em que você não vai querer comer, para evitar sentir-se mal depois. Comer de forma saudável traz bem estar, e a conexão com o corpo traz essa percepção. Assim como a conexão com a natureza leva algumas pessoas a se sentirem melhor sendo veganas ou vegetarianas.

4) Fazer as Pazes Com a Comida
   weheartit.com

Quem considera que certos alimentos são inimigos da dieta, às vezes sente culpa só de pensar naquilo. Há até mesmo quem sinta medo de ter fome, ao pensar que pode escorregar e comer alguma coisa “errada”. Acontece que a culpa acaba nos privando de realmente sentir o gosto das coisas, e, quando não sentimos a satisfação que esperávamos, a tendência é comermos ainda mais, sem nunca nos sentir verdadeiramente satisfeitos. Por isso, é importante saber que nenhum alimento é proibido, desde que comê-lo seja uma escolha consciente. O ato de se observar durante todo o processo, antes, durante e após comer, e anotar a experiência, é uma boa forma de tomar mais consciência das suas decisões.

5) Comer Com Atenção Plena (Mindful Eating)
   images.agoramedia.com

Comer de forma distraída, fazendo outras coisas, interfere tanto na satisfação quanto a culpa. Por isso, escolha pelo menos uma refeição ao dia em que, ao comer, não faça mais nada. Nada de livro, celular, televisão. Concentre-se no alimento, primeiro só com os olhos. Veja as cores, imagine como ele chegou até o seu prato. Sinta o seu cheiro. Só então coloque na boca, prestando a atenção na textura, temperatura, consistência, em como você sente o gosto em diferentes partes da língua. A experiência pode ser absolutamente incrível, e aposto que vai querer repetir outras vezes.
Aqui vai um bom exemplo de relação de amor com a comida:
“(…) quando minha mãe estava degustando o [chocolate] dela, era mais como uma meditação. Ninguém falava. Um olhar para suas expressões, seus lábios e seus olhos ordenava um silêncio na casa. Era uma maneira natural de reverenciarmos nossa mãe, permitindo-lhe o momento pra saborear um dos seus mais elementares prazeres. Saber apreciar aquela explosão de sabores delicados, aquela maciez suprema da textura que se derrete na boca e começa a descer pela garganta é, para mim, uma grande realização sensual do ato de comer. É uma experiência que nem se compara com comer uma barra de Snickers correndo.”
(Mireille Guillano no livro Mulheres Francesas Não Engordam: os segredos indispensáveis para comer com prazer… e sem culpa)

   getty images

Agora é com você! Bom apetite e boa diversão escolhendo quais alimentos merecem sua atenção, quais merecem uma DR e quais aqueles com quem você quer manter uma relação estável.