A propaganda brasileira é “investment grade”, mas não é só ela não. Os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein são “investment grade”. O ITA (Instituto de Tecnologia da Aeronáutica) também é “investment grade”.
O sistema bancário brasileiro tem qualidade e expertise globais. O Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada do Rio de Janeiro é “investment grade”.
A imprensa brasileira tem jornalistas que poderiam estar dirigindo os maiores veículos de comunicação do mundo. Eles têm competência global e uma coragem que também são “investment grade”.
Roberto Medina, que já sofreu sequestro e que poderia ter ido sonhar em outros lugares, ficou no Brasil e faz um dos melhores e maiores festivais do mundo. E o Rock in Rio é “investment grade” em cada detalhe.
O agronegócio brasileiro é “investment grade”. Os gestores brasileiros são “investment grade”.
A televisão, o cinema e o teatro brasileiro são “investment grade”. O último filme de Regina Casé, “Que Horas Ela Volta?”, da diretora Anna Muylaert, é uma obra-prima saudada pela “Vanity Fair” e pelos maiores veículos da imprensa mundial.
“Narcos”, a nova série do diretor e autor José Padilha, estrelada pelo ator baiano Wagner Moura, é um sucesso global porque “é investment grade”.
Só que nós somos “investment grade” como aqueles corredores africanos que ganhavam maratonas e provas de longa distância porque eram treinados descalços nas piores condições de terreno. E o mundo em nossa volta nunca foi “investment grade”.
Os empreendedores brasileiros são “investment grade”. Eles têm a resiliência como marca, e as dificuldades sempre foram mães da invenção.
As empresas brasileiras, veja as datas de suas fundações, cresceram sob porrada, com precárias condições competitivas, num sistema tributário kafkiano e numa economia instável.
Acordar no Brasil, muitas vezes, é um ato de teimosia. Levantar é um ato de coragem. Meu sono não é “investment grade”, mas meu sonho é.
Este texto é escrito por mãos roídas. Eu odeio quando as pessoas dizem que eu sou Poliana, que meus artigos são textos de autoajuda. Eu sou corajoso porque estou com medo. Estou procurando saídas porque está difícil encontrá-las. E todas as vezes que o Brasil se viu nessas circunstâncias, ele encontrou saída.
Roberto Marinho começou a vida perdendo o pai. Washington Olivetto foi internado criança com suspeita de poliomielite, e foi da cama que brotou o seu gênio.
Eles são “investment grade”. Eu sou “investment grade”. E não vou deixar que me rebaixem.
As pessoas me perguntam o que eu tomo para ser animado. Eu tomo vergonha, eu tomo Losec, eu tomo Motilium, eu tomo passes no Gantois, eu tomo dez quilômetros no parque.
Eu não durmo à noite, eu morro. Só que às 6h45 da manhã, como fênix, eu pulo da cama. Eu e milhões e milhões de brasileiros que colocaram o Brasil para ser “investment grade”.
Somos um país tão acostumado a conviver e a superar as desvantagens que a nossa seleção olímpica que mais ganha é a seleção paralímpica. Portanto cegos, surdos, sem braços e sem mãos como a Vitória de Samotrácia exposta no Museu do Louvre, nós seguimos em frente e de maneira surpreendente cruzaremos vitoriosos a linha da chegada.
Porque somos fênix. Porque somos grandes brasileiros, a despeito e apesar dos ciclos do Brasil. Nós somos “investment grade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário