terça-feira, 18 de outubro de 2011

DIÁRIO ATÉ KONA: RELATO FINAL

Após a leitura do diário do Topan, mais uma vez volto a afirmar “Só sei que nada sei”. Talvez, meu relato não agrade, mas, de qualquer forma, aí vai...

Antes de qualquer outra palavra, gostaria de agradecer a todos que acompanharam os diários. A todos que tiveram paciência para ler meus pensamentos e minhas dificuldades enfrentadas durante os treinos. A todos que acompanharam a sequência e volume de natação, pedal e corrida que tiveram que ser ajustados para que eu entrasse em forma em apenas 4 semanas e tivesse condições para largar no dia 08 de outubro, em Kona.

Gostaria de agradecer aqueles que me encorajaram e me fizeram acreditar que eu seria capaz de largar e ainda realizar uma boa prova, apesar de todos os apesares.

Agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente do meu treinamento, só eu sei o quanto eu os infernizei (ainda insisto no adicional noturno e insalubridade! rs)

Gostaria de agradecer à minha família, a minha equipe de trabalho e aos meus amigos.

Agradeço aos meus apoiadores: Esporte Clube Pinheiros, Oakley, Asics, Studio Velo Tech, Officina, CNM Sport. Obrigada por acreditarem em mim e me darem a oportunidade de carregar, no peito, essas marcas de imenso valor!

Meus seguidores do blog, Facebook e Twitter, obrigada pela torcida, pelo carinho e preocupação.


 Pedal na Queen K

Bom, vamos ao Hawaii...

Parece que fui testada. Testada o tempo todo por King Kamehameha. Estes dois últimos meses foram intensos e, em Kona, não foi diferente!

Tomei decisões. Decisões importantes, baseada no que fazia sentido para mim, naquele momento. Acordei com a consciência de que teria um dia difícil e sofrido. Fomos para o píer. Numeramos.

Estava tranquila... Juro!

Coloquei as caramanholas na bike, chequei os pneus e estava tudo certo!

Caí na água em cima da hora e nadei até a ponta esquerda, à extrema esquerda. Resolvi largar nesta posição, mais distante das bóias! Preferia nadar a mais a ficar presa no bolo como no ano passado... que foi um caos!
Aliás, foi uma excelente decisão! Nadei tranquila. Obviamente, rolou pacandaria, mas foi show!!! Comecei a nadar forte para sair do bolo de atletas que nadavam juntos. Fiquei ofegante e os braços travaram, mas valeu a pena. Eu consegui encaixar a natação e me colocar num bloco de nadadores para aguentar até o final.

Ao olhar o relógio, quando coloquei os pés no chão, não gostei. Estava marcando 1h04min, mesmo tempo do ano passado (porém em 2010, tive problemas com meu ombro). Mas, quando vi várias bikes ao lado da minha, na transição, e depois soube dos tempos dos outros atletas, mudei minha referência e fiquei mais contente e satisfeita com meu tempo de natação, mesmo porque, a natação estava mais difícil neste ano.

Minha transição foi lenta…

Na bike, pedalei forte, consistente! O vento estava pior do que no ano passado. Impressionante como a subida de Hawi nos consome! As condições climáticas são cruéis. O vento muda a toda hora! Rajadas laterais e não consegui, mais uma vez, ficar no clipe! Mas, acredito que a grande diferença em relação a 2010 foi na volta, após o km 120. No ano passado, não ventava. 


Saída da água


Foi muito sofrido!

Chegava a dar risadas da situação, pois o vento era tanto, que a sensação era a de pedalar e não sair do lugar. Mas permaneci consistente, prestando atenção na hidratação, alimentação e já pensando em como me defender na corrida em função dos imprevistos ocorridos. Voltei, literalmente, brigando com a natureza!

Fechei o pedal para 5h35min. Feliz!
Na Big Island? Sob os “suspiros” de King Kamehameha? Para mim?
Foi muito bom!

Eu estava motivada! Comecei a fazer contas...

Saí da transição com 6h50min de prova. Logo tive aquela sensação: “Agora só falta correr!” Agora sou eu… By myself… Acreditava que conseguiria correr a maratona. Eu acreditava que uma hora anestesiaria tudo!

Mas, desta vez, NÃO ROLOU!

Até que comecei ritmada, porém, nos primeiros 7 km, na Alii Drive, já pensava em parar. Fiz o retorno.

Pelo meu tempo de natação + pedal + transições (que foram bem lentinhas, diga-se de passagem!), se eu quebrasse na corrida e corresse a maratona para 4horas, conseguiria fechar a prova abaixo de 10h50mim. Não sei por que, mas eu acreditava que ainda conseguiria correr.

Eu estava me arrastando! Acho que fui me enganando. Eu pensava:

"Vou parar, porque se eu não parar agora, vou pagar depois!"

“Mas, Se eu parar, como vou lidar com isso? Eu larguei. A decisão foi minha! Vou continuar até onde der. Vou fazer o que me propus a fazer! Longe de fazer a prova que idealizava e longe de pensar em performance… mas, vou até o final!”

“Será?"

Pensava na vaga: “Eu peguei a vaga... Tirei a oportunidade da segunda colocada de fazer esta prova que é um sonho para todo triatleta.”

Eu sonhava em largar novamente... Conquistei esse sonho!!!

Pensei nas empresas que me apóiam, nas marcas que carrego no peito e na minha responsabilidade. Pensei em todas as pessoas que acreditaram em mim e me ajudaram chegar até aqui.

Eu não podia parar e iria até onde meu corpo permitisse.

Assim, eu fui me enganando: ";apenas até mais o próximo posto de água"

Sofri demais!!! Mas, tenham certeza: Eu fiz o meu melhor!

Fiz com amor... Fiz com paixão!!!


Chegada



Falhar, se permitir "fracassar", aprender a lidar com a frustração, sofrer e lidar com as adversidades e variáveis incontroláveis, faz parte do nosso esporte.

Encarar, tomar decisões, e depois assumi-las! Tudo pode acontecer; inclusive nada! E isso é com qualquer um, seja amador ou profissional.

Como o Topan sempre diz:

“Ironman é Ironman... Kona é Kona…”

Apesar de todos os apesares, amo este esporte! Amo a Big Island!

E Kona... Continua sendo meu sonho...

Living a dream...

Dreaming a dream...

Não estava num bom dia, mas agi de acordo com o que fazia sentido para mim, naquele momento...

Opção minha! É... Se fosse fácil... Não se chamaria Ironman!

Porém, tenho me questionado, um pouco, sobre esse "espírito Ironman de terminar a prova a qualquer custo". Acabei piorando meu quadro geral, pois não tive a percepção, autoconhecimento, segurança e experiência para entender e fazer a leitura dos sinais do meu corpo. Eu diria que são poucos os atletas que chegam a esse estado. São raros os que têm a coragem de assumir e falar: “Fiz o meu melhor... até onde foi possível!

Faz sentido?

Tomar a decisão de ir até o final da forma como fiz, talvez tenha sido uma operação "kamikaze". Fui meio inconsequente. Não ter noção para entender os sinais do próprio corpo e não ter limites para dor não é heroísmo... Mas, sim, amadorismo!

O verdadeiro Ironman quer fazer o esporte no longo prazo...
Quer o casamento com o esporte...
Quer praticá-lo para a vida toda...
Quer a sequência...
O dia após dia...

Terminar uma prova a qualquer custo pode acabar com essa relação de longa data, com o amor da sua vida!

Cruzar a linha de chegada de qualquer maneira, e depois ficar meses sem treinar? Será que vale a pena?

Hoje, digo como amo este esporte!
Quero sim carregá-lo comigo por muuuuiito tempo.

Não faz sentido cruzar uma linha de chegada a qualquer custo e depois não conseguir realizar uma função básica e natural do ser humano que é andar!

Infelizmente passei um pouco do meu limite. Que isso sirva de lição, para mim mesma.

O Tico e Teco estão duelando violentamente e já pensando no ano que vem!

Mahalo!!!

Aninha

Publicado também no MundoTri

11 comentários:

  1. Ana,
    é difícil não ser kamikaze qdo se investiu tanto para pegar a vaga e tanto para chegar em Kona.

    Ah, estou com um livro do Hermógenes em casa e queria te mandar. Me manda seu endereço?

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  2. Essa foto da chegada retrata a sua forca que voce fez pra chegar onde chegou.... PARABENS voce é uma guerreira... Ano que vem ainda tem muito mais!

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  3. Aninhaaaaa
    Seu relato foi com tamanha paixão, que não ha como não se envolver. Putz que sofrimento foi essa corrida...e essa sua foto na chegada emocionante!!

    Olha Aninha nunca fiz um Ironman, já estive observando 2x em Floripa e acabei fazendo o meio de Penha.

    Não entendo quando fala que seu relato pode não agradar!?!?Pô Aninha largou por AMOR, e durante a prova nimguem pode te julgar em nada... existe o esgotamento físico, mental e emocional. Poxa li coisas de pessoas, talvez ate mais próximas, falando que errou!!Juro que não entendi!

    Vc e uma guerreira!E fez por amor!

    Racionalidade demais atrapalha!

    Olha vou exemplificar...

    Topan realmente é um mestre um professor com metas, cronometro,mente, corpo, equilibrio etc... leio o seu blog aprendo muito, mas leio somente uma vez, no seu eu leio, releio, releio novamente e por aí vai rsrs

    Aninha você incorporou o espirito GO FOR IT!do surf, se jogou e foi por paixão!

    Parabéns Aninha Guerreira!

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  4. Partner "do meu coração" :-)

    A vida é uma consequencia das nossas decisões... Sempre! Se elas são boas ou ruins depende sempre do ponto de vista. O otimista tira coisas boas das piores situações, já o pessimista...

    Tendo "participado" de quase tudo que você passou até essa prova em Kona e depois ouvindo seu relato, eu só posso dizer que você é uma inspiração pra todos, principalmente aqueles que, como eu, tem o privilégio de poder te acompanhar de perto. Garra, dedicação, abdicação... mas acima de tudo PAIXÃO. Essa é minha partner :-D

    É sempre melhor sofrer por aquilo que fizemos e decisões que tomamos, do que sofrer por coisas da quais "fugimos"... O aprendizado é algo que nos fortalece!

    Beijos no coração e uma excelente e rápida recuperação!

    LODD

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  5. Meu Deus!
    Eu sempre penso que deve ser uma decisão dificílima. Parar não é fácil. E as expectativas de todos? E as tuas expectativas? Parar é um grande gesto de humildade.
    Mas tu continuaste.
    Fico imaginando o Tico e o Teco discutindo durante a prova:
    Tico diz: "Para!"
    Teco responde: "Não para!"
    Ainda bem que o Teco foi mais insistente. Continuaste e humildade não te faltou, basta ler esse depoimento incrível. Vou imprimir e colar na parede do meu quarto. Quando me pegar reclamando da vida ou desacreditado de alguma coisa, lerei o texto para perceber a insignificância do meu "problema". Entre aspas sim, porque qualquer coisa é fácil depois de ler teu texto. Estiveste em Kona, com os melhores (afinal és um deles), duelaste com o Tico e Teco na difícil decisão, seguiste, com humildade, e completaste esta prova incrível. O que dizer? Somente me vem duas palavras a cabeça: PARABÉNS e OBRIGADO. Obrigado por compartilhar essa experiência e me dar esta incrível lição, que vale para o esporte, vale para a vida.
    Tu és linda. Maravilhosa.

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  6. Uau...
    Sem palavras... E cheia de lagrimas!
    Emocionada... Muito emocionada...

    Xampa... Obrigada pelo livro! :)) Muito gentil da sua parte! ;-) Nada de ficar sem graca, hein?

    Mateus, diria que foi uma guerra sim... Fisica e mental! Mas faltou pensar em Sun Tzu... E na "Arte da Guerra"! Pretendo sim nadar, pedalar e correr... Atras de nova "batalha"!

    Meu amigo anonimo surfista... Valeu!! Gostei do "Go for it"... Boa! Soh faltou colocar "but don't die"! :)) obrigada por me acompanhar...

    LODD... Vc eh... "MEU PaRTNER DO CORACAO"...
    E... Nao sei como agradece-lo... Por TUDO!
    Vc surgiu na minha vida atraves da esporte... E virou muito mais q um amigo e parceiro de treino... Virou um IRMAO!!!
    Obrigada... Obrigada... Obrigada...

    Este comentario "bah, tri-gaucho"... Soh pode ser a Dea, nao?

    Muito obrigada pela paciencia p/ ler este longo texto... Por me acompanharem... Pelo carinho... Pelos comentarios... Pela torcida... Pela energia...

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  7. Bom dia!
    "Comentário bah, tri gaúcho"? Hahaha.
    Acho muito engraçado como vocês (que não moram no sul) acham que todo mundo que nasce/mora para baixo de São Paulo é gaúcho.
    - Onde você mora?
    - Floripa.
    - Ah, é gaúcho!
    Hahaha
    Mas o sotaque é bem diferente e não tomamos chimarrão!
    E como está a recuperação? E o tornozelo?

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  8. Viiiiiiiiixi!!!
    Desculpa!!!
    Achei q o "bah" fosse tipico de gaucho... Desculpa!
    Desculpa minha ignorancia de girias culturais geograficas...:-(

    Tudo otimo!

    Agora eh PACIENCIA...

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  9. Está desculpada! Mas que isso não se repita! Brincadeira, ok?

    Eu que te peço desculpas. Acho que me expressei mal, não quis ser grosseiro.

    Mas é engraçado. É só falarmos "tu" que o pessoal já chama a gente de gaúcho!

    Para não confundires mais:

    O manezinho da Ilha (Floripa) fala: "Se quésh, quésh. Se não quésh, dix".

    O gaúcho fala: "TCHÊ!!! PERDI MEUS BRINCOS!!!"

    Melhor não discutirmos sobre ignorâncias culturais e geográficos. Vou ganhar fácil, sou bem mais "ingnorante". Tu és viajada, recém chegada do Hawaí. E prá mim Hawaí se escreve Avaí e é um time daqui de Florianópolis... eu nem acreditava em vida após a ponte. Passei a acreditar com o advento da internet. Mesmo assim às vezes me pego pensando que pode ser tudo uma grande conspiração! (risos)

    Te desejo tudo de bom e uma rápida recuperação. Vai atualizando o blog prá gente ficar sabendo!

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