Após um dia punk, saí do escritório e fui para o 2º turno de treino (já tinha corrido pela manhã) com minha malvada-predileta-bff Andréa Trivellato. Eu estava péssima companhia... mega reclamona. Mas treinei até o fim!
Saí da Gym
e passei na casa de mamy para dar um beijo de boa viagem, já que ela estava saindo de viagem... Enfim, papo vem, papo vai... falamos sobre tudo...
Trabalho, esporte, família, saudade, fases... Na verdade, falamos sobre VIDA
. E ela me lembrou de algo que havia esquecido... De uma fábula de Monteiro Lobato que meu avô seeeeempre nos contava... E não podia deixar de compartilhar,
né?
O velho, o menino e a mulinha
Monteiro Lobato
O velho chamou o filho e disse: "Vá ao pasto, pegue a mulinha e apronte-se para irmos à cidade, que quero vendê-la."
O menino foi e trouxe a mula. Passou-lhe a raspadeira, escovou-a e partiram os dois a pé, puxando-a pelo cabresto. Queriam que ela chegasse descansada para melhor impressionar os compradores.
De repente: "Esta é boa!", exclamou um visitante ao avistá-los. "O animal vazio e o pobre velho a pé! Que despropósito! Será promessa, penitência ou caduquice?"
E lá se foi, a rir.
O velho achou que o viajante tinha razão e ordenou ao menino: "Puxa a mula, meu filho! Eu vou montado e assim tapo a boca do mundo."
Tapar a boca do mundo, que bobagem! O velho compreendeu isso logo adiante, ao passar por um bando de lavadeiras ocupadas em bater roupa num córrego.
"Que graça!", exclamaram elas. "O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre do menino a pé... Há cada pai malvado por este mundo de Cristo... Credo!"
O velho danou-se e, sem dizer palavra, fez sinal ao filho para que subisse à garupa.
"Quero só ver o que dizem agora..."
Viu logo. O Izé Biriba, estafeta do correio, cruzou com eles e exclamou: "Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez... Assim, meu velho, o que chega à cidade não é mais a mulinha, é a sobra da mulinha..."
"Ele tem toda razão, meu filho. Precisamos não judiar do animal. Eu apeio e você, que é levezinho, vai montado."
Assim fizeram, e caminharam em paz um quilômetro, até o encontro dum sujeito que tirou o chapéu e saudou o pequeno respeitosamente.
"Bom dia, príncipe!"
"Porque príncipe?", indagou o menino.
"É boa! Porque só príncipes andam assim de lacaio à rédea..."
"Lacaio, eu?", esbravejou o velho. "Que desaforo! Desce, desce, meu filho e carreguemos o burro às costas. Talvez isso contente o mundo..."
Nem assim. Um grupo de rapazes, vendo a estranha cavalgada, acudiu em tumulto com vaias:
"Hu! Hu! Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber qual dos três é o mais burro..."
"Sou eu!", replicou o velho, arriando a carga. "Sou eu, porque venho há uma hora fazendo não que quero mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já que vi que morre doido quem procura contentar toda gente..."
Moral: "Não sei o caminho do sucesso, mas com certeza o do fracasso é querer agradar a todo mundo."